Brasil e Argentina abrem negociações sobre comércio

A ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, recebeu o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Enio Cordeiro. Foi o primeiro contato pessoal entre funcionários dos dois países para abordar a medida brasileira que, caso seja mantida, pode prejudicar duramente a economia da Argentina.
Após o encontro, Débora anunciou que os vice-ministros encarregados do Comércio de ambos os países irão se reunir na semana que vem para tratar de uma agenda ampla.
"Porém, não se decidiu o local onde será realizado o encontro entre (os vice-ministros Eduardo) Bianchi e (Alessandro) Teixeira (as alternativas são Buenos Aires ou Foz do Iguaçu), mas foi estipulado que serão dois dias de trabalho", afirmou o ministério em nota.
O ministério acrescentou que a partir da reunião de Débora com Cordeiro "ambos os governos começarão a fazer acordos e coordenar os temas da agenda a serem tratados na reunião bilateral", na qual serão abordados "todos os temas pendentes, tanto os pontuais, quanto os estruturais".
Logo depois da adoção da medida pelo Brasil, Buenos Aires reagiu com uma nota na qual reclamou dos obstáculos ao acesso ao mercado brasileiro para muitos de seus produtos.
Um comunicado divulgado na terça-feira pela consultoria Analytica disse que a extensão da disputa comercial entre o Brasil e a Argentina desacelerará a atividade industrial, que cresce sustentavelmente desde 2010, e também debilitará o minguante saldo comercial da Argentina.
A manutenção das licenças não-automáticas do Brasil à importação de automóveis também prejudicaria os investimentos na Argentina, terceira economia latino-americana, acrescentou a Analytica.
A produção de automóveis é um dos pilares da economia argentina, que entre veículos e peças exportou ao Brasil cerca de 7 bilhões de dólares em 2010.
Em fevereiro, a Argentina anunciou a aplicação de licenças não-automáticas à importação de 577 produtos do Brasil, seu maior parceiro comercial e com quem tem um persistente déficit comercial.
Na segunda-feira, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Fernando Pimentel, descartou as insinuações de guerra comercial entre os dois países.
"Temos laços comerciais extremamente amigáveis com a Argentina. Não há motivo para um rompimento ou uma guerra comercial", disse ele em entrevista coletiva em Brasília.
Ao anunciar a medida na semana passada, Pimentel disse que cerca de metade das importações de automóveis brasileiras vêm da Argentina, e que a ação também atingirá importações de outros países, incluindo Estados Unidos e Japão.
(Por Guido Nejamkis, reportagem adicional de Hugo Bachega, em Brasília)