Paul McCartney comemora seus 69 anos com dois relançamentos históricos
No sábado, dia 18 de junho, Paul comemorou seus 69 anos e, na mesma semana, a gravadora EMI inglesa colocou no mercado duas edições históricas. O primeiro álbum solo, que leva o título de “McCartney” e foi lançado em 1970, e “McCartney II”, que saiu dez anos depois.
Esses dois álbuns recebem agora um tratamento remasterizado, como aconteceu com toda coleção dos Beatles há pouco tempo. Paul acompanhou todo processo de remixagens e remasterização dessas duas obras-primas e o resultado é supreendente. O álbum “McCartney”, quando lançado em 1970, veio acompanhado da notícia da saída de Paul dos Beatles. O disco foi lançado um mês antes de “Let It Be” e muitos discutem até o título do álbum como uma ruptura da dupla Lennon e McCartney – poderia se chamar simplesmente “Paul McCartney”, mas ele fez questão de colocar sómente “McCartney”, para deixar bem claro que a dupla Lennon e McCartney havia acabado.
Enquanto John Lennon em seu álbum “John Lennon/Plastic Ono Band” de 1970 mostrava um lado rude, cru , melancólico e revoltado em suas questões existencialistas, “McCartney” era um disco simples carregado de paixão e temas que retratavam seu bem-estar e principalmente seu relacionamento com Linda McCartney. Um disco família como a própria capa sugere esse ambiente, o pote de cerejas caindo pela mesa, a filha enrolada em sua blusa na contra-capa, tudo muito singelo. A gravação foi feita num estúdio de 4 canais em sua casa de campo na Escócia. Paul tocou todos os intrumentos e Linda o ajudou em alguns backing-vocals. Esse é o grande charme desse disco, a simplicidade que acompanhou Paul McCartney em toda sua carreira solo.
Não desprezando o engajamento político de John Lennon, nessa época eu ficava dividido entre os dois a cada lançamento, o lado mais enraizado nas origens do rock e do blues que John Lennon explorava sempre me encantou, e a dura crítica de suas letras me empolgavam. Por outro lado, vinha a suavidade e a melodia descompromissada de Paul McCartney, que nesse primeiro disco fez questão de romper com a superprodução de arranjos de “Abbey Road” (1969) para uma produção caseira, como se aquele repertório fosse um embrião de futuras canções a serem gravadas pelos Beatles, caso ele não tivesse terminado com a banda.
Sempre achei que “McCartney” e “Ram” (1971) soavam como demo tapes de canções dos Beatles. Era difícil para um fã admitir aquela separação inesperada. Enquanto John Lennon já definia seu próprio estilo a partir de seu disco de 1970, Paul só encontrou essa saída a partir de seu terceiro álbum, “Wild Life”, de 1971, quando montou sua própria banda, o Wings. Muitos criticam esse disco, mas eu sou um eterno apaixonado por ele, desde a capa, que já dá uma ideia de banda, e aquela foto deles no lago sugere harmonia e paz, como se Paul tivesse finalmente encontrado uma família de músicos ao lado de sua esposa Linda.

A edição remasterizada de “McCartney” saiu em três formatos diferentes, o mais completo é um livro nos mesmos moldes de “Band on the Run” lançado em 2010. Nesse caso são dois CDs: o primeiro é a gravação original remasterizada do álbum e o segundo uma série de gravações inéditas em CD e no DVD um documentário e um vídeo sensacional da clássica “Maybe I’m Amazed”. No livro, fotos inéditas feitas por Linda McCartney naquela época e ainda fotos das guitarras de Paul usadas na gravação do disco assim como seu lendário baixo Rickenbacker e o Epiphne Casino também usados nas gravações dos Beatles. Num formato mais simples e mais barato encontramos o cd duplo com o som remasterizado e de excelente qualidade do disco original, mais os outtakes do segundo CD. E, como o vinil está em alta também saiu uma edição em dois LPs, trazendo as mesmas gravações dos CDs.

Dez anos depois de lançar “McCartney” e marcando mais uma ruptura em sua carreira, dessa vez com sua banda The Wings, Paul resolveu fazer sua segunda versão solo. Outros tempos, diferentes sonoridades, não existe nada que se compare em termos de sonoridade ao seu primeiro solo de dez anos atrás. No álbum “McCartney II” ele celebra sua aceitação pela new wave e pela era do synth pop. Pode até se tratar de um rompimento com aquele pop mais adocicado que acompanhou sua carreira anteriormente ao lado do Wings, para um encontro com a nova era dos sintetizadores e das experiências eletrônicas. Esse disco abriu novos horizontes para a obra de Paul McCartney, deixando-o mais livre para experimentações. Até mesmo o pop de “Coming Up” que foi o single de sucesso desse disco, lembrava um pouco os arranjos new wave do Talking Heads.
Mesmo assim, músicas como “On the Way” e a faixa que encerra o disco, “One of These Days”, traz de volta levemente a vibração e o sentimento do álbum “McCartney”, de 1970. Na edição especial recém-lançada, também em três formatos, temos inicialmente a edição dupla em CD, com o álbum original remasterizado e no segundo CD, gravações inéditas. Na edição especial, um livro contendo três CDs e um DVD, além da edição dupla em vinil.
Para completar, apenas mais uma recomendação: um tributo a Buddy Holly, um dos maiores ídolos de Paul McCartney e grande influência em suas primeiras canções dos Beatles. Lembrando que os Beatles regravaram “Words of Love” em 1964 no álbum “Beatles for Sale”. Esse tributo recém-lançado leva o nome de “Rave On – Buddy Holly”. Nele, Paul interpreta “It’s So Easy”.
O elenco reunido para regravar Buddy Holly foi muito bem escolhido, entre modernos como a cantora Florence Welch e seu grupo Florence & The Machine, que deram um novo sabor para “Not Fade Away”. A faixa-título, “Rave On”, ficou por conta da interpretação de Julian Casablancas, vocalista do Strokes. O duo The Black Keys abre o disco com “Dearest”, e a clássica “Oh Boy” ficou bem interessante na releitura do duo She & Him. Artistas mais consagrados como Lou Reed, Patti Smith, Graham Nash e Nick Lowe também aparecem. Um belíssimo tributo que merece ser ouvido.