Paquistão alerta que operação poderia ter acabado em "tragédia"
EFEAgus Morales
Islamabad, 5 mai (EFE).- O Paquistão alertou nesta quinta-feira que a operação dos Estados Unidos que matou Osama bin Laden poderia ter gerado uma "tragédia" se esse país tivesse decidido conter a violação de seu espaço aéreo, e advertiu que não permitirá outra operação similar.
Enviado tanto centro do poder civil quanto militar, o aviso representa um claro endurecimento da postura de Islamabad após as críticas recebidas desde a morte na madrugada de segunda-feira (no horário de Islamabad) do líder da Al Qaeda nas cercanias da capital paquistanesa.
O primeiro a sair da reunião foi o secretário de Relações Exteriores paquistanês, Salman Bashir, quem em entrevista coletiva rejeitou as insinuações de que a agência secreta paquistanesa (ISI) tivesse concedido refúgio ao homem mais procurado do mundo, e elogiou as Forças Armadas de seu país.
Bashir garantiu que os helicópteros dos EUA que participaram da operação contra Bin Laden tinham a tecnologia necessária para evitar que fossem detectados por radares, na primeira versão oficial divulgada pelo Paquistão sobre como ficaram sabendo da operação.
Segundo o diplomata, a "primeira" informação recebida pelo país foi sobre a queda de uma aeronave norte-americana na cidade de Abbottabad - próxima a Islamabad - na qual residia Bin Laden.
Assim que soube, detalhou Bashir, o Exército do Paquistão enviou dois aviões de combate F-16 - que levaram 15 minutos para chegar até o local -, e ordenou o deslocamento por terra de forças de segurança e soldados de inteligência até a área.
O diplomata paquistanês garantiu que a operação dos EUA foi executada "muito rapidamente"; em não mais de 40 minutos.
"Foi sorte não ter ocorrido nenhuma tragédia", prosseguiu o secretário de Relações Exteriores, referindo-se ao hipotético confronto que poderia ter ocorrido se os militares paquistaneses chegassem ao local quando os americanos ainda estavam lá.
Bashir (somente abaixo da vice-ministra Hina Rabbani Khar, já que neste momento não há ministro titular em sua pasta) relatou que após o ataque o chefe do Estado-Maior dos EUA, Mike Mullen, ligou para o chefe do Exército do Paquistão, Ashfaq Pervez Kiyani. Um pouco mais tarde, o presidente americano, Barack Obama, fez o mesmo com seu colega paquistanês, Asif Ali Zardari.
O diplomata reiterou que o Paquistão não fazia ideia de que a ação ocorreria. Disse ainda que a academia de cadetes de Kakul - a quatro quilômetros, pelos seus cálculos, do complexo residencial onde vivia Bin Laden - não exige a mesma defesa de outras instalações militares, em uma tentativa de justificar que a intrusão americana passasse despercebida.
O secretário paquistanês de Relações Exteriores defendeu o Exército e a ISI - que têm uma difícil relação com os Governos civis do país -, insistindo em que é "falsa a informação" de que elementos dos serviços secretos contribuíram para manter o chefe da Al Qaeda fora do radar dos EUA.
Horas depois, o Exército divulgava seu primeiro comunicado oficial sobre a morte de Bin Laden, no qual coincidiu com o Governo em elogiar a ISI, mas admitiu erros da inteligência no caso do líder da Al Qaeda.
Pela nota, o chefe do Exército, Ashfaq Pervez Kiyani, advertiu que se os EUA fizerem outra operação em seu território como a que matou Bin Laden, o Paquistão revisará sua "cooperação" militar e de inteligência com Washington.
As Forças Armadas deixaram claro, da mesma forma que o Executivo, que os serviços secretos norte-americanos (CIA) não compartilharam informações com a agência paquistanesa (ISI) sobre a operação.
"Foi ordenada uma investigação sobre as circunstâncias que levaram a esta situação", diz a nota, emitida após uma reunião dos comandantes dos principais corpos do Exército.
Até agora, as Forças Armadas não tinham divulgado nenhuma posição sobre a morte de Bin Laden apesar do rumor crescente na comunidade internacional de que Islamabad poderia ter encoberto de alguma maneira o líder terrorista durante sua estadia em Abbottabad.
Uma fonte de inteligência ocidental disse à Agência Efe que o "Paquistão poderá sair melhor ou pior dessa crise, depende da maneira como vai administrar" a crise.
A fonte sustentou que os EUA "abriram uma porta" para o Paquistão - principalmente com as palavras de Obama, em tom conciliatório - para que possa salvar após a chamada "Operação Geronimo", que descreveu como "muito bem executada", e apontou que, de qualquer maneira, a capacidade de resposta deste país a operação seria "mínima". EFE
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