terça-feira, 14 de junho de 2011



Mais do que como craque, ele ficará na memória dos torcedores do Corinthians como uma das maiores esperanças já vindas das categorias de base. Adão Ambrósio, o Adãozinho, morreu na noite de 12 de junho, aos 59 anos, deixando muitas histórias. 
Uma velha lenda (desmentida a mim por ele mesmo) dizia que Adãozinho era filho de um pedreiro que ajudava o pai em uma obra no Parque São Jorge quando foi chamado para completar o time em um treino das categorias de base. E que naquele dia teria entrado em campo, acabado com o jogo e conquistado seu lugar no Corinthians.
Na verdade, quem o viu jogar futebol nas ruas da Vila Mariana, onde passou a infância, foi um antigo conselheiro corintiano, Leonel Marconi, que o levou para o clube. Da Vila Mariana vem também uma outra confusão, quanto ao local de nascimento do paulistano Adãozinho. Em algumas publicações, ele aparece erroneamente como tendo nascido na cidade de Mariana, em Minas Gerais.   
Técnico, bom lançador, versátil (chegou a jogar nas meias e na ponta-esquerda), Adãozinho era visto como o sucessor ideal de Rivellino por ninguém menos que o próprio Riva, que reinou absoluto como principal astro da equipe durante dez anos, de 1965 a 1974. Mas ganhou notoriedade, mesmo, em um certo jogo de 1971, contra o Palmeiras.
Aquela partida entrou erroneamente para a história como “a estreia de Adãozinho”. Na verdade, ele já havia participado de três jogos anteriormente: 2 a 1 no São Bento, pelo Campeonato Paulista, sendo substituído durante a partida por Ademir, em 27 de fevereiro de 1971; derrota por 3 a 1 para o Flamengo, em um amistoso em Campo Grande (MS), entrando no lugar de Rivelino, no dia 7 de março daquele mesmo ano; e 2 a 1 no Marília, pelo Paulista, novamente substituindo Rivellino, em 9 de março. O jogo da vida de Adãozinho, porém, foi mesmo aquele contra o Palmeiras, pelo primeiro turno do Paulista, no Morumbi, disputado em um domingo nublado, 25 de abril de 1971.
Com dez minutos, o Palmeiras já ganhava por 2 a 0, dois gols do centroavante César, que só depois de encerrar a carreira passou a ter o apelido “Maluco” incorporado ao nome. Para o segundo tempo, o técnico corintiano Francisco Sarno, que havia prometido publicamente pedir demissão se perdesse, voltou com o jovem Adãozinho no lugar de Samarone.
Aos 5 minutos, Mirandinha descontou para o Corinthians: 2 a 1. Aos 24, Adãozinho acertou um portentoso chute a uma distância de 40 metros, vencendo o àquela altura já consagrado goleiro Leão e empatando a partida em 2 a 2. No minuto seguinte, Leivinha, chutando da mesma maneira, fez Palmeiras 3 a 2. Na saída de bola, Tião foi lá e voltou a empatar para o Corinthians, 3 a 3. E quando faltavam apenas dois minutos para o final Mirandinha, novamente, fez Corinthians 4 a 3. Um resultado inesquecível, principalmente para Adãozinho.   
Embora jamais tenha chegado a ser aquele jogador que tanto prometia (principalmente por conta da tendência para engordar e de seguidas contusões, consequência, segundo os médicos da época, dos vários focos dentários que apresentava desde criança), Adãozinho permaneceria no Corinthians a tempo de conquistar o histórico título paulista de 1977, aquele que só veio após 22 anos de espera. Reabilitado pelo técnico Oswaldo Brandão, teve grande importância tática naquelas finais contra a Ponte Preta e só não jogou a terceira partida, na noite do gol de Basílio, porque havia sido expulso no domingo, na derrota corintiana por 2 a 1. Antes de encerrar a carreira, em 1983, passou por outros clubes, como Fast-AM, Coritiba, Rio Negro-AM e Portuguesa Santista.
Reencontrei Adãozinho em 1997, justamente para fazer uma reportagem para a revista Placar sobre onde e como estavam os jogadores 20 anos após aquela conquista tão importante para os corintianos. À frente da escolinha de futebol onde ele trabalhava, no bairro da Saúde, em São Paulo, uma placa, orgulhosa, ostentava: “Professor Adãozinho, ‘eis’ [sic] Corinthians”. Do lado de dentro, um homem bem-humorado, que dizia ainda gostar de “molhar a palavra”, eufemismo usado por quem bebe, que ele havia aprendido com alguns amigos da Mangueira, no Rio de Janeiro. Vai deixar saudade, dentro e fora de campo.

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