Promessa de mudanças em Cuba
Em Cuba, a política tem agora tanto de improvisação como de estagnação. A frase é contraditória. Mas também os líderes cubanos o são. Tomemos como primeiro exemplo Fidel Castro. Depois de ter dito que se ia afastar definitivamente da política, o ex-presidente cubano apareceu ontem de surpresa no congresso do Partido Comunista Cubano (PCC), no poder, ao lado do irmão Raúl, o actual líder. Esta foi a primeira vez que os dois apareceram juntos em público desde que Fidel, de 84 anos, entregou, há cinco anos, o cargo ao irmão por doença. O partido fez o mesmo e elegeu Raúl secretário-geral.
A crise no país obrigou os líderes a ceder à mão invisível e, entre outras coisas, o governo decidiu agora, pela primeira vez desde 1959, permitir que os cubanos comprem e vendam casas. Até agora a população apenas podia passar as casas aos filhos ou trocá-las através de um sistema complicado, e frequentemente corrupto.
Outro sinal de improvisação ou estagnação, consoante a perspectiva, está no facto de o PCC ter eleito a velha guarda para liderar o novo percurso económico da ilha, dois dias depois de Raúl ter dito que queria um "rejuvenescimento sistemático" da classe política, através da limitação do tempo e do número de mandatos (dois de cinco anos cada um).
"Chegámos à conclusão que é recomendável limitar a duração dos mandatos políticos fundamentais a um máximo de dois períodos consecutivos de cinco anos. Apesar de termos sempre tentado promover os jovens aos principais postos de responsabilidade, a vida mostrou-nos que estas escolhas não foram sempre as mais adequadas", disse Raúl, garantindo que a medida também se aplicará a ele próprio. Ora, ontem, o líder do país, foi de novo eleito presidente do PCC cubano e José Machado Ventura vice-presidente.
Se a escolha de Raúl era esperada, a nomeação de Ventura (tido como um comunista da ala dura) para o segundo lugar na estrutura política mais importante do país poderá, segundo a agência Reuters, desiludir o povo cubano e outros que esperavam sangue novo à frente de um dos últimos estados comunistas do mundo. Juntos, e com uma idade avançada, vão levar a cabo amplas reformas na frágil economia de inspiração soviética.
Tanto Castro como Ventura lutaram na revolução cubana de 1959 e lideram os agora envelhecidos revolucionários à frente do governo há mais de meio século, desde a queda do regime do ditador Fulgencio Batista, apoiado pelos EUA. Machado Ventura formou-se em Medicina e é, caso Raúl abandone o cargo, o primeiro na linha de sucessão para a liderança.
O congresso já aprovou um pacote de mais de 300 reformas, algumas delas, por exemplo o corte de 500 mil empregos na função pública (possibilitando mais iniciativa privada e empréstimos de terras do Estado a agricultores) já entraram em vigor.
Raúl disse que 15 pessoas, incluindo ele próprio e Machado Ventura, tinham sido nomeadas para o influente bureau político. Porém, apenas três são caras novas: Marino Murillo, responsável pelas reformas, Mercedes López Acea, secretária-geral do PCC em Havana, e Adel Izquierdo Rodríguez, ministro da Economia.
O ex-presidente cubano, Fidel Castro, apareceu no congresso de fato de treino azul-escuro e comoveu muitos dos presentes quando teve de ser ajudado a sentar-se no seu lugar no palco. "Não posso fazer algo a que não estou em condições de dedicar--me a tempo inteiro", já tinha declarado o antigo líder em Novembro do ano passado.
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